Da loja de pai... é o que me
lembro desde sempre!
Vendia-se de tudo...plástico, chapéu, bota, roupas, tecidos, linha,
chinelos, máquina de costura, velocípedes, móveis, travesseiros e tecidos...Muitos
tecidos, prateleiras enormes com vários deles, subia-se com escada nas enormes prateleiras para
pegá-los! De todas as cores, espessuras, texturas, os quais se cortavam com o
metro de madeira amarelo e tesoura amolada. Alguns podiam-se rasgar, outros tinham
que ser cortados na linha do tecido, sem ficar torto!
O durex sempre em cima do balcão, tinha uma frase no suporte para os
desavisados: “durex não é tira-gosto!” Tudo era embrulhado, fosse pra presente
ou não, feito com muito capricho, sem embolar o papel.
A máquina registradora, tinha um barulho inconfundível ao rodar a
manivela. O livro de entrada e saída de mercadoria, tudo devidamente registrado
e contabilizado. E tinha o cofre com seu misterioso segredo, pai adorava fazer
um suspense ao girar os números e destravar a porta e meu irmão adorava contar
vantagem mostrando que sabia o segredo...rs
Os balcões de madeira e vidro sempre limpos combinavam com as
prateleiras e vitrine que mais parecia uma cristaleira de tão linda...e tinha
também o grande espelho branco, o meu preferido!
Os clientes todos tratados com muito respeito... “o cliente tem sempre
razão” dizia pai incansavelmente... Sem distinção, o pobre, o rico, o cego, o
prefeito, o deficiente, a prostituta, o lavrador, o analfabeto, o velho, o
homossexual, o padre, todos compravam lá na loja de pai!
Lembro de tantos detalhes...dos amigos lojistas e de como a gente
brincava num entra e sai de balcões: Tia Magnólia tão cheirosa e arrumada, casa
Raje, Tonin Xeté, Bebê, Seu Dema, Seu Camilo, Alipin, Manel do Povo, Du (na praça do Coreto), e assim era a ciranda da Praça das Lojas quando eu era criança, lugar onde
brinquei e aprendi a ser gente grande!